domingo, 25 de outubro de 2009

A jornada de Gumercindo Saraiva numa revolução surreal




A Revolução Federalista ocorrida entre 1893 e 1895, é um dos episódios mais violentos da história do Brasil, com direito a degola de prisioneiros, de ambos os lados em disputa, federalistas e republicanos e vingança desenfreada contra partidários de cada lado. É o período de consolidação da República, proclamada em 1889, e a autonomia do estados, com constituição própria. O principal líder republicano no Rio Grande do Sul era Julio de Castilhos, do Partido Republicano Rio Grandense, e governador do Estado. Foi um dos fundadores da república no Brasil, assim como outros líderes da época, entre eles, Joaquim Francisco de Assis Brasil. Pelo lado Federalista os principais líderes eram Gaspar Silveira Martins, senador do Império, líder do Partido Liberal no estado, e João Nunes da Silva Tavares, o Joca Tavares, estancieiro e caudilho em Bagé, General veterano de outras guerras. Entre as causas da revolução está o confronto de idéias e de líderes: Julio de Castilhos impunha uma constituição de cunho positivista escrita em sua essência por ele mesmo, desagradando muitos dos antigos chefes políticos. O poder estava no estado forte. Para impo-la e fortalece-la determinou a ordem: "Não poupe adversários, castigue-os nas pessoas e nos bens, respeitando as famílias". Outro importante personagem dessa luta foi Gumercindo Saraiva, meio brasileiro, meio uruguaio, nascido em 1852, na Freguesia de Nossa Senhora das Graças de Arroio Grande, hoje município de Arroio Grande-RS, e criado em Cerro Largo, República Oriental do Uruguai, pois seu pai tinha propriedades por lá. Na época da proclamação da república, cuidava das propriedades da família e morava em Santa Vitória do Palmar, onde também era delegado de polícia nomeado ainda no tempo do Império com apoio de Gaspar Silveira Martins, por também ser do partido Liberal. Cargo que veio a perder com a República. Em função disto sofreu perseguições políticas e acusação de homicídio, sendo absolvido logo em seguida. Com o recrudescimento das hostilidades contra os inimigos dos Republicanos, vários chefes federalistas e seus correligionários migraram para o Uruguai e montaram sua base de reunião na cidade de Melo, próxima a fronteira, donde planejavam entrar novamente no Rio Grande do Sul, com o exército denominado de Libertador com o objetivo de acabar com a ditadura de Julio de Castilhos. A invasão aconteceu em fevereiro de 1893 a partir do passo de Aceguá, município de Bagé na época, todos de lenço vermelho no pescoço e como vinham do Uruguai, seus inimigos os apelidaram de Maragatos (provenientes de uma região da Espanha). Já os republicanos receberam o apelido de Pica Paus em função da faixa branca que utilizavam no chapéu, caracteristica de uma espécie de pica pau da região. O primeiro grupo a invadir foi o de Gumercindo Saraiva que juntamente com seu irmão Aparício, que logo após a revolução, iria tornar-se o principal caudilho do partido Blanco no Uruguai, lideravam 400 homens, na vanguarda, aguardando a invasão dos demais liderados pelo General Joca Tavares, que eram cerca de 3000 homens. Após vários combates na região e a junção de mais tropas, marcharam ao rumo de Alegrete e encontraram-se com o exército legalista comandados pelo General Hipolito Ribeiro, na margem do Rio Inhanduí onde deu-se a batalha que levou esse nome. Num total de 6500 federalistas e 4000 republicanos lutaram por seis horas, tendo os federalistas se retirado quando a batalha ainda era incerta. A retirada foi determinada, principalmente, pela suposta aproximação das tropas do General João Telles na retaguarda dos rebeldes, sendo outro determinante a superioridade em armas dos legalistas. O exército libertador retirou-se rumo a Santana do Livramento onde passou a fronteira para recompor-se no lado uruguaio. Julio de Castilhos já comemorava o fim da revolução quando soube da notícia que Gumercindo Saraiva tinha permanecido no Estado com seus 400 lanceiros e estava combatendo as forças republicanas na campanha, em guerrilha. Aparecia e desaparecia com facilidade, invadindo e tomando cidades cujo intendente era republicano. Sua fama logo correu pelo Rio Grande e todos os chefes perguntavam-se quem era essa castelhano que tomava a iniciativa e estava prosseguindo com a guerra. Vend0 seu sucesso, parte do exército libertador recuperado e bem armado invade novamente o Estado sob comando do General Oliveira Salgado e logo Gumercindo junta-se a ele, num total de 1700 homens. Venceram 0 combate do Cerro do Ouro em São Gabriel, contra 1200 homens do exército republicano comandado pelo coronel Francisco Portugal, sendo esta uma derrota humilhante para os republicanos. Com isso a chamada Divisão do Norte, tropas legalistas organizadas por José Gomes Pinheiro Machado, senador da república e amigo de Julio de Castilhos, começa a persegui-los. Neste meio tempo a guerra toma rumos diferentes. No Rio de Janeiro a marinha levanta-se contra o regime ditatorial do presidente Floriano Peixoto, episódio chamado de Revolta da Armada, e partem para o sul, para apoiar os revoltosos. Desembarcaram em Desterro, onde hoje é Florianópolis capital de Santa Catarina, e lá instalam o Governo provisório da República cujo novo presidente é o Capitão de Mar e Guerra Frederico Guilherme de Lorena, apoiados já neste momento pelos federalistas gaúchos e oficiais da Armada. Gumercindo e Salgado rumam para o norte, entram em Itaqui, Cruz Alta e Passo Fundo, sempre perseguidos pela Divisão do Norte, onde travam pequeno combate com parte dessas tropas em Mato Castelhano, próximo a Passo Fundo. O Governo Brasileiro envia o General Francisco de Paula Argolo do Rio de Janeiro ao Paraná para assumir o comando das forças que expedicionariam a Santa Catarina para terminar com o governo provisório e paralelamente parte outra do Rio Grande do Sul, sob o comando do General Arthur Oscar. É então que os federalistas atravesam o Rio Pelotas e passam a Santa Catarina, e aí dividem-se: A coluna de Salgado parte para Tubarão, com objetivo de chegar a Desterro, e a de Gumercindo para os lados de Lages. A revolução que tinha um objetivo estadual, torna-se nacional a partir do sul. Partindo com 1600 homens, Gumercindo irá fazer uma jornada até o Paraná levando a revoluçao aos três estados do Sul. Conduzindo homens e cavalos por caminhos difíceis, abrindo picada no mato intocado das regiões serranas. A coluna atinge Blumenau descendo embarcada pelo rio Itajaí, logo em seguida passando a Itajaí. A Divisão do Norte persegue-o atravessando também para Santa Catarina, e atinge Blumenau, onde Gumercindo deixa parte de sua coluna com 300 homens para combate-la. Os republicanos tomam Itajaí e forçam a retirada dos federalistas, porém retornam ao Rio Grande do Sul para combater o revolta lá. A coluna de Gumercindo encontra-se em São Francisco do Sul (SC) e combinam o plano de invasão do Paraná. A força do exército brasileiro comandada por Argolo chega a São Bento, onde declara tomar posse do governo de Santa Catarina como interventor, porém não tem tropas suficientes para combater Gumercindo e volta ao Paraná onde é substituido pelo coronel Gomes Carneiro. A coluna federalista divide-se em duas, e Gumercindo ataca a praça de Tijucas (SC), enquanto a outra comandada pelo General Piragibe invade o Paraná e ataca Lapa defendida já pelo Coronel Gomes Carneiro onde acontece o cerco desta cidade, com combates ferrenhos de parte a parte nas ruas de Lapa, com grandes perdas dos dois lados e terminando com a morte do próprio coronel Gomes Carneiro, ferido em combate. Tijucas em Santa Catarina cercada por Gumercindo também capitula e este ruma para Lapa a juntar-se ao restante da coluna. Em Curitiba o governador legal Dr. Vicente Machado abandona a cidade e parte para São Paulo. Após a capitulação da Lapa e com caminho livre até Curitiba, os revolucionários instauram o governo provisório e partem para Ponta Grossa onde Gumercindo planeja invadir São Paulo, ao mesmo tempo que aventa a possibilidade da independência dos três estados meridionais. Porém o governo brasileiro diante da ameaça desse caudilho reforça as tropas do Paraná, vindas de São Paulo e ruma em direçao a Ponta Grossa. Gumercindo parte para o Rio Grande com cerca de 5000 homens, fazendo a contramarcha, onde os aguarda a Divisão do Norte. Por caminhos ingremes e de mato fechado, homens e cavalos levados a exaustão entram novamente no Estado em maio de 1894 de onde haviam saído em outubro de 1893. Em junho encontram-se com a Divisão do Norte em Passo Fundo e travam a Batalha da Fazenda dos Melos, e, com a impossibilidade de utilizar a cavalaria devido ao terreno impróprio, são derrotados. Gumercindo tem por objetivo chegar novamente ao pampa seu local de origem e onde tem mais possibilidades de combater com a cavalaria sua arma preferida. Ruma para o lado das missões, acesso mais rápido a campanha rio grandense, onde na localidade de Carovi, município de Santiago, trava novo combate com a Divisão do Norte. Enquanto estava desmontado, próximo a um capão de mato, observando as cargas de seu irmão Aparício no comando da cavalaria, um tiro partindo de uma tocaia no mato o fere mortalmente. Vendo o seu comandante ferido, seu irmão e demais companheiros retiram-se e levam-no em uma carroça onde morre logo em seguida, em 10 de agosto de 1894. Seu corpo é sepultado num local próximo donde combateram, e dois dias depois é desenterrado pelas tropas republicanas. Teve sua cabeça decepada e o corpo deixado fora da sepultura. Segundo a lenda, a cabeça foi colocada em uma caixa de chapéu e enviada a Júlio de Castilhos como prêmio da derrota do caudilho que tanto havia importunado-o. Essa é mais uma das bizarrices a qual essa guerra foi palco. Enquanto Gumercindo estava em Santa Catarina, as forças do exército Libertador comandada por Joca Tavares retorna ao Rio Grande do Sul e trava combate com forças republicanas próximas a Bagé, comandas pelo General Isidoro Fernandes e pelo coronel Maneco Pedroso, este um republicano ferrenho que estava invadindo estâncias de federalistas, matando e destruindo o que estivesse pela frente. Pois então as tropas de Joca Tavares os derrotam em Rio Negro, no município de Bagé, e fazem cerca de 300 prisioneiros, que são passados na faca, degolados, por vingança. Os republicanos também tiveram a sua no combate do Boi Preto em Palmeira das Missões, onde 370 prisioneiros maragatos foram degolados ou fusilados. Assim como em Santa Catarina e no Paraná, com a derrota dos federalistas, houve fusilamento dos presos políticos, inclusive do presidente provisório Frederico Guilherme de Lorena. A superioridade de armamento dos republicanos leva vantagem na maioria dos combates, o que leva a maior parte dos chefes federalistas procurem exílio nos países vizinhos. Ainda teve um ultimo combate em junho de 1895, onde marinheiros a "cavalo", com a presença do Almirante Saldanha da Gama, oficial da marinha, condecorado em batalhas importantes do passado, proveniente do Rio de Janeiro, de onde saiu após a Revolta da Armada, são completamente derrotados por tropas republicanas composta de campeiros acostumados com o pampa da região de Santana do Livramento, e onde o próprio Saldanha da Gama morre atravessado por uma lança numa carga de cavalaria. Em 23 de agosto de 1895 faz-se a paz em Pelotas, com a presença do General Galvão de Queiroz, representando o governo brasileiro, e Joca Tavares, este pede a anistia aos rebeldes do Rio Grande do Sul e da Armada Nacional a qual é concedida. Após a guerra a campanha estava destruida, estâncias foram saqueadas e durante muito tempo este episódio histórico foi apagado dos livros em função da violência o qual foi travado e do profundo trauma que causou na sociedade Rio Grandense, o que ainda perdurou por um tempo até o fim da república velha. O saldo final de mortos foi cerca de 10.000. Gumercindo Saraiva virou uma lenda na campanha em função do rumo o qual deu a guerra, da jornada que empreendeu e por causa de sua cabeça. Seus restos mortais, foram achados, graças a um lavrador que voltou a enterra-los após a retirada da cabeça, e posteriormente levados ao Uruguai, e de lá voltou ao Brasil em seu mausoleu no cemitério de Santa Vitória do Palmar, onde até hoje é visitado por gaúchos. Um relato fiel da jornada de Gumercindo Saraiva é o livro do médico de sua tropa Dr. Angelo Dourado, Voluntários do Martírio, baseado em seu diário. SUGESTÃO E FONTE BIBLIOGRAFICA: A CABEÇA DE GUMERCINDO SARAIVA, TABAJARA RUAS E ELMAR BONES, EDITORA RECORD, 1997; VOLUNTÁRIOS DO MARTÍRIO, ANGELO DOURADO, MARTINS LIVREIRO, 1997; OS CRIMES DA DITADURA, RAFAEL CABEDA E RODOLPHO COSTA, MEMORIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2002; A GUERRA CIVIL DE 1893, SERGIO DA COSTA FRANCO, EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 1993. IMAGEM: FOTO DE GUMERCINDO SARAIVA NO CENTRO SENTADO E SEU IRMÃO APARÍCIO A SUA DIREITA.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

General Osorio


Manoel Luis Osorio, General Osorio, hoje Patrono da Arma de Cavalaria do Exercito brasileiro, foi um dos militares mais populares da história do Brasil, se não o mais. Nascido na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio em 10 de maio de 1808, na estância de seus avós maternos, atual município de Tramandaí-RS. Cresceu neste ambiente, onde aprendeu as lidas campeiras desde cedo, montar e domar, habilidades necessárias aos guerreiros daquela época. O pai era militar e participou da invasão da Banda Oriental em 1811. Terminada a luta contra Artigas e já como Provincia Cisplatina, seu pai foi designado à guarnição do Exercito Imperial em Salto, região noroeste do Uruguai, para onde levou a familia em 1821. Osorio, primeiramente não queria ser militar, planejava seguir estudos, porém por força do momento político na região, seu pai o fez assentar praça no exército e reforçar suas tropas. Osorio partiu com seu pai ao encontro do Exército do General Lecor e assentou praça em 1823. Participou da Batalha do Sarandí, afluente do Rio Yí, hoje Departamento de Flores, Uruguai, em 12 de outubro de 1825, entre os Rebeldes Orientais e o Exercito Imperial. Com a refrega pendendo para o lado Oriental, foi cercado com seus companheiros do qual escapou após combate braço a braço. Viu sair em seu encalço dois soldados orientais que o identificaram como oficial. Estes atiravam bolheadeiras para tentar derruba-lo e, ao perceber que acabaria sendo alcançado, Osorio, que galopava com a pistola em uma mão, em movimento rápido deu um tiro para trás e matou o perseguidor que vinha a sua direita, por destreza, mas também por sorte em função da dificuldade do tiro. O outro vinha com espada para golpea-lo a qual se quebrou ao chocar-se com sua pistola descarregada, erguida por ele para defender-se do golpe. O castelhano aguarrou a rédea do seu cavalo e Osorio o golpeu com a pistola na cabeça, fazendo cair do cavalo causando sua morte. Mais adiante encontrou o General Bento Manoel Ribeiro desmontado apertando os arreios, que haviam caído. Osorio agrupou soldados para formar resistencia e dar tempo ao comandante remontar e salvar-se. Livre da Perseguição do inimigo Bento Manoel confiou a Osorio e não aos oficiais mais antigos a missão de organizar os soldados dispersos. Com a coragem demonstrada nesta batalha, ganhou o respeito da tropa. Tinha 17 anos na época. Quando eclodiu a revolução Farroupilha em 20 de setembro de 1835, já como tenente, fazia parte da guarnição de Bagé. Osorio era do partido Liberal, o mesmo dos revolucionários, porém como obdiente da disciplina militar, seguiu com seu capitão, que era do partido conservador, para São Gabriel a juntar-se as tropas de Sebastião Barreto, comandante de armas da Província e fiel ao Governo de Braga, Presidente da Provincia. A tropa foi dissolvida em função da superioridade numérica dos farrapos na região e fugiu para o Uruguai. Com a dissolução das forças de Sebastião Barreto, voltou do Uruguai decidido a juntar-se ao Farrapos, pois eram do mesmo partido e a maioria dos lideres tinham lutado ao seu lado na Cisplatina. Araújo Ribeiro que veio assumir a presidencia da provincia, da cidade de Rio Grande escreve aos potenciais legalistas falando da conspiração revolucionária para proclamar a Republica Rio Grandense, entre estes Osorio, que resolveu defender o novo presidente, pois não concordava com a separação. Assim ficou até o final da guerra ao lado dos legalistas. Após o final da revolução com a paz assinada em Ponche Verde e sendo o novo presidente da provincia o Barão de Caxias, Osorio entra definitivamente para politica pelo partido liberal, como deputado da provincia, acumulando-se a carreira militar e política, numa época em que isso era permitido. Na política construiu desafetos que prejudicaram-no em varias ocasiões na carreira militar. Porém era um militar de confiança do Conde de Caxias e de Dom Pedro II. Quando Rosas ameaçou a política no Prata, apoiando o caudilho do partido Blanco Manuel Oribe no Uruguai, que saqueva e destruia as estâncias no norte do uruguai as quais pertenciam em sua maioria a brasileiros, o Império faz aliança com o governo colorado no Uruguai e a provincia de Entre Rios na Argentina sob o comando do General Urquiza. O Exercito Imperial, mais uma vez invade o Uruguai sob o comando de Caxias, com 16.200 homens aliado a Urquiza que invade pelo Rio Uruguai, para libertar o país do caudilho Manuel Oribe que cercava Montevidéu, governada pelo partido Colorado. Cerco este que durou em torno de 10 anos, episódio da historia Uruguaia denominado de Guerra Grande. A guerra passa ao território argentino, em 1852, e a batalha derradeira é feita em Monte Caseros, próximo a cidade de Buenos Aires, em 3 de fevereiro, onde o exercito de Rosas com 24.000 homens é derrotado por 26.000 comandados por Urquiza. Osório comandou a cavalaria Rio Grandense sob ordens do General Lamadrid e teve papel fundamental nesta batalha, permanecendo a frente de seu regimento em todos os ataques, sendo que no final marchou a trotre e tomou uma bateria composta de cinco canhões. Foi elogiado por todos nesta batalha, Argentinos, Uruguaios e pelo seu exército. Começou aí uma lenda para todo o exército e nos países do Prata. O episódio mais importante de sua história militar foi a Guerra do Paraguai, iniciada em 1865, entre a Tríplice Aliança, formada entre Brasil-Argentina-Uruguai sob o comando do Presidente da República Argentina General Bartolome Mitre e a República do Paraguai sob comando do ditador Solano Lopez. Obteve papel fundamental na guerra como comandante do exército brasileiro, nos diversos cenários, primeiramente na invasão do Uruguai, depois a transposição do Rio Uruguai para a Argentina, com o exército paraguaio invadindo este país, e logo o Rio Grande do Sul. Após a retirada do exército paraguaio, o qual voltou ao Paraguai, para assumir posição defensiva, e a rendição de Uruguaiana, onde as forças do Coronel Estigarribia renderam-se aos Aliados na presença do próprio Imperador Dom Pedro II, iniciou-se a invasão ao território paraguaio pelo Passo da Pátria, confluência entre os Rios Paraná e Paraguai, território Argentino. Osorio fez questão de ser o primeiro a por os pés em território paraguaio, onde proferiu a frase "É por ali que vai o caminho do dever; a ele soldados. Avante!". Por ser voluntarioso e estar sempre na vanguarda de seus soldados mostrando o caminho, Osorio adquiriu uma capacidade de liderança lendária, que segundo soldados que participaram da Guerra e escreveram sobre ela, exercia uma força de admiração e atração quase divina sob seus comandados, a ponto de que a simples visão deste General na batalha os incitava novamente ao ataque. Foi assim que organizou a vitória na Batalha do Tuyuty, em 24 de maio de 1866, maior batalha campal da America do Sul com 32.000 aliados sendo atacados por 24.000 paraguaios. Aos gritos em cima de seu cavalo, sob uma saraivada de balas comandou a inversão da batalha, sendo favorável aos paraguaios até o momento. Para manobrar as tropas, constituídas em boa parte por civis, os chamados "Voluntários da Pátria", percorreu todo acampamento, indo para vanguarda debaixo de fuzilaria inimiga, e aos gritos de "Viva a Nação Brasileira" e "Viva o Imperador", fez parar batalhões que recuavam e avançar aqueles que trazia consigo. A batalha durou 5h30min, terminado ao final da tarde e deixando o campo coberto de cadáveres paraguaios, em distância superior a 3 km, cerca de 6.000 paraguaios mortos e 7.000 feridos enquanto os aliados tiveram cerca de 1000 mortos e 3200 feridos. A guerra prosseguia com o objetivo de dominar a fortaleza de Humaitá que defendia o Rio Paraguai e a passagem para Assunção, capital do país. Osorio voltou ao Brasil em agosto de 1866 para cuidar da saúde debilitada e deixou o exército sob comando do General Polidoro. Com exército estagnado em Tuyuty e em guerras de trincheiras denominada de Linha Negra, decidiu-se a invasão do segundo exército sob comando do General Porto Alegre, que estava estacionado no Rio Grande do Sul, como reserva, para que, em conjunto com a esquadra sob comando de Tamandaré, atacasse as duas fortificações que precediam Humaitá, denominadas Curuzu e Curupaity, a mando do comandante da Tríplice Aliança General Bartolome Mitre. Porto Alegre obteve sucesso na primeira, e no ataque a Curupayty com o exercito do General Porto Alegre sendo auxiliado pelo próprio Bartolome Mitre que comandou pessoalmente o exército argentino, foram derrotados. Vendo a guerra estagnar e sem comando, Dom Pedro II, chamou Caxias, que em sacrifício pessoal, pois já era sexagenário, aceitou a missão de organizar o exército e aumentar seu efetivo. Caxias chamou novamente Osorio ao serviço e colocou-o no comando do 3º exercito no Rio Grande d0 Sul onde responsabilizou-o pela tarefa de alistar novos efetivos nesta Província a fim de reforçar o exército no Paraguai. Encontrando muitas dificuldades, inclusive política, pois o presidente da Provincia era seu rival, conseguiu reunir cerca de 5.000 homens, que em 18 de julho de 1867 passou ao Paraguai. Caxias decide mobilizar o exercito novamente com a presença de Osorio, e atacar a posição de Humaitá que sucumbiu em 1868 e o caminho ficou livre até Assunção para esquadra brasileira bombardear a capital do país. No inicio de dezembro de 1868 deu-se inicio a uma série de batalhas contra o exército paraguaio o que acabou por dizima-lo por completo, foi a chamada Dezembrada, onde em 11 de dezembro de 1868, travou-se a batalha de Avaí, em que Osorio, por estar na vanguarda e exposto aos tiros do inimigo, foi alvejado por um paraguaio que estava em uma árvore. A bala entrou de cima para baixo e partiu seu maxilar inferior esquerdo derrubando-o do cavalo. Ele voltou a montar, mas o sangue jorrava do ferimento e como não podia estanca-lo, enrolou o pala no rosto e passou a galope por todas as linhas dizendo "carreguem, camaradas, acabem com o resto...". Durante anos no dia 11 de dezembro, veteranos da Guerra do Paraguai compareceram perante a estátua de Osorio, no Rio de Janeiro para depositar flores. A batalha do Avaí foi retratada em quadro monumental de Pedro Américo em 1877. Devido ao ferimento Osorio não participa dos demais combates de dezembro de 1868 e retira-se ao Brasil, para cidade de Rio Grande onde morava sua esposa, para tratar o ferimento grave. Apartir daí o caminho estava livre para Assunção onde o exército entrou sem resistência e deserta em 1º de janeiro de 1869. Neste momento o comando da guerra passa ao Conde D´eu, que novamente chamou Osorio para um último esforço de comandar o exercito, não participando ativamente dos combates, mas para levantar o ânimo das tropas que já estavam a mais de 4 anos na campanha. Osorio aceitou a tarefa e retornou em abril de 1869, onde ficou até dezembro do mesmo ano. A perseguição a Lopez durou até 1870. Com todo seu exército regular dizimado, utilizou velhos e crianças (com barba postiça) para combater até o final, quando foi morto no Arroio Aquidaban. Osorio voltou como Herói nacional, desiginado a Marquês do Herval e Marechal, recebeu diversas condecorações do Imperador Dom Pedro II que o admirava. Foi senador do Império, e faleceu em 4 de outubro de 1879 aos 71 anos de idade, vítima de uma pneumonia, no Rio de Janeiro. Foi primeiramente enterrado lá, sendo mais tarde seus restos mortais depositados numa cripta embaixo da estátua construída em sua homenagem em 1892, e em 1993 retornou ao Rio Grande do Sul onde está depositado em uma urna funerária em memorial no Parque Histórico Marechal Manoel Luis Osorio em Tramandaí-RS. SUGESTÃO E FONTE BIBLIOGRÁFICA: GENERAL OSORIO, FRANCISCO DORATIOTO, 2008, COMPANHIA DAS LETRAS;
REMINISCÊNCIAS DA CAMPANHA DO PARAGUAI, DIONISIO CERQUEIRA, 1980, BIBLIEX